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Como as escolas “matam” (ou não cultivam) os artistas

  • Foto do escritor: Thiago Loreto
    Thiago Loreto
  • 1 de out.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 19 de out.

Introdução


É comum ouvirmos que “a escola mata a criatividade e os artistas”. Quando o tema é arte, essa crítica ganha contornos concretos: currículo padronizado, provas e metas voltadas para matérias avaliadas por exames nacionais, e falta de formação específica dos professores acabam por reduzir oportunidades reais para jovens com talento e interesse artístico. A seguir, apresento o meu texto original, depois uma análise com dados, causas, impactos e propostas práticas para uma arte-educação que forme, não que apague.



A caça


Assim que você é matriculado em uma escola, principalmente as do ensino público, começa a caça ao artista do futuro, prepare-se para as várias matérias onde você terá de estudar muito sobre matemática e português, prepare-se para o ensino médio onde você deverá aprender muito sobre português, matemática, química e física, prepare-se para o ENEM para entrar em uma boa faculdade, bem, em resumo, é assim que os 14 anos de ensino básico no nosso país, não viu como os artistas são mortos por ele? Vamos ver com mais atenção.


Vou pular os anos de pré escola, pois aqui é ensinado às crianças a vida em sociedade, vejamos no primeiro ano do ensino fundamental, aulas de colorir desenhos prontos, massinha da modelar que não seca e mistura com outras com muita facilidade virando uma massa cinza e por fim trabalhos de recorte e colagem, nada de muita criatividade por aqui, sente-se no seu lugar e complete a atividade como foi planejada, e é assim nós demais anos iniciais, a menos que um ou outro professor dedicar seu precioso tempo para preparar uma boa aula de artes, o que raramente acontece, vejamos os anos finais do ensino fundamental, bem aqui não há grandes mudanças, além é claro dos textos complexos e extensos sobre história da arte, linhas do tempo e demais complexidades, bem, não é que isso é ruim, mas os alunos aqui ainda não tiveram contato com técnicas e processos criativos entende? Eles sabem sobre a história da arte, mas não fazem parte da arte, e mais uma vez, sentados em seus lugares em silêncio, copiem tudo que está no quadro pois nosso período é curto aqui. Por fim, chegando ao ensino médio, os jovens não possuem conhecimento prático desenvolvido nos anos anteriores, talvez saibam algo sobre história da arte, mas eles não precisam disso para o ENEM, ora o que acontece no ensino médio? Apenas aqueles alunos que estudaram e aprenderam sobre algum estilo da arte tem a atenção do professor, mas, mesmo assim, isso não compensa anos de isolamento, estudos solitários e todo o conhecimento que estes jovens adquiriram como autodidata.


Vejam que é um processo que acontece da mesma maneira que as demais matérias, mas as artes não são como as outras matérias, não são lineares, não são complexa porém simples, as artes, caminham e são fluídas, a criatividade não é limitada ao aluno criativo, a criatividade se desenvolve, há um processo por trás dela, isso não nos é ensinado, caçam o criativo, o prendem em uma cadeira, o criativo é preso a livros complexos e textos que não fazem sentido no momento que é aplicado, ignorado pelo processo docente, ignorado aos olhos de quem está educando, como isso acontece?


Muitos dos professores, principalmente do ensino fundamental, não possuem uma formação específica na área de conhecimento das artes, deixando assim nossos jovens artistas sem o conhecimento básico que deveriam todos aprender sobre a arte, é o ensino básico sem o básico.



O diagnóstico — evidências que confirmam o problema


  1. Falta de habilitação na área: pesquisas e levantamentos indicam que uma parcela significativa dos docentes que lecionam Arte não tem habilitação específica. Estudos e levantamentos apontam percentuais relevantes de professores sem formação na disciplina, o que compromete o trabalho técnico e a mediação didática necessárias para formar futuros artistas.


  2. Professores atribuídos fora da formação: dados do Censo e relatórios sobre o perfil dos profissionais da educação mostram que, no Brasil, muitas disciplinas (incluindo áreas artísticas) são ministradas por docentes sem formação específica — um reflexo da falta de pessoal formado e da organização das redes públicas.


  3. Formação inicial fragilizada: relatórios e análises acadêmicas alertam para crise e queda na formação de licenciaturas em várias áreas, incluindo Artes — o que projeta déficit futuro de docentes qualificados.


  4. Práticas escolares pautadas por avaliações externas: o foco em disciplinas cobradas por exames nacionais (ENEM) e por metas padronizadas reduz o tempo e a prioridade para práticas artísticas de profundidade — muitas vezes substituídas por atividades superficiais e repetitivas.



Por que isso “mata” o artista em formação?


  • Ausência de técnica e ofício: sem professores habilitados e sem ateliês bem equipados, o aluno não desenvolve técnicas (desenho, pintura, modelagem) nem processos criativos que exigem tempo e prática.


  • Desconexão entre teoria e prática: estudar história da arte sem realizar processos criativos impede a apropriação do fazer artístico — transforma a arte em conteúdo para memorização, não em prática formadora.


  • Cultura avaliativa hostil à experimentação: medidas de desempenho e preparação para provas incentivam ensino reprodutivo. O resultado é desmotivação de alunos com vocação para a arte.


  • Baixa visibilidade de carreiras artísticas: sem orientação e circuitos de continuidades (oficinas, residências, cursos técnicos), os jovens não enxergam trajetórias possíveis na arte.



O que precisa mudar — propostas práticas e imediatas


  1. Formação continuada e específica para professores de Arte


    • Implementar programas estaduais ou municipais de atualização (oficinas práticas, residências com artistas, cursos em parceria com institutos culturais). (ex.: programas do Itaú Cultural, Funarte e editais locais podem ser articulados para isso).


  2. Valorização da habilitação na atribuição de aulas


    • Priorizar a atribuição de componentes de Arte a professores habilitados; quando isso não for possível, garantir co-planejamento com habilitados e supervisão pedagógica.


  3. Tempo e recursos para prática


    • Reservar horas-aula (e espaço físico adequado) para ateliês, processos e projetos de longo prazo (não apenas atividades pontuais de colagem).

    • Investir em materiais e espaços compartilhados (laboratórios, ateliês móveis, parcerias com centros culturais).


  4. Projetos integrados com a comunidade cultural


    • Firmar parcerias com Pontos de Cultura, museus, coletivos de arte urbana e universidades para levar artistas às escolas e abrir vias de circulação para alunos (exposições, mostras, residências).


  5. Avaliações que valorizem o processo


    • Adotar rubricas e portfólios (em vez de somente provas) que avaliem desenvolvimento técnico, criatividade e projeto. Isso retira a pressão da memorização e incentiva a investigação artística.


  6. Orientação de carreira


    • Informar alunos sobre itinerários possíveis (cursos técnicos, licenciaturas, residências, mercado cultural), criando trilhas locais que conectem escola, ensino superior e mercado.



Exemplo prático


  • Nome: “Ateliê Aberto na Escola” (6 meses)


  • Atividades: oficinas semanais de desenho, pintura e grafite orientado; visitas a coletivos locais; exposição final no pátio da escola; oficina de orientação sobre cursos e editais.


  • Impacto esperado: prática contínua do fazer artístico, visibilidade pública e encaminhamentos para cursos técnicos e residências.


  • Fontes de apoio: editais locais, Pontos de Cultura, SESC, financiamento via parcerias com universidades.



Conclusão


Seu texto capta uma verdade incômoda: o sistema escolar brasileiro, como está organizado, costuma reduzir a arte a preenchimento e memória, em vez de cultivá-la como ofício, linguagem e possibilidade profissional. Os dados sobre habilitação docente e sobre a fragilidade da formação em licenciaturas confirmam que é preciso agir em três frentes — formação docente, infraestrutura e currículo — e ampliar parcerias com o setor cultural.

A boa notícia: caminhos práticos existem e muitos agentes (institutos culturais, universidades, Pontos de Cultura) já oferecem instrumentos para transformar práticas. Comece com um projeto piloto, registre resultados e use-os para pressionar por mudança institucional. O futuro dos artistas do país depende de ações concretas hoje.


Se este artigo te tocou, compartilhe com professores, diretores e gestores da sua rede. Se você é professor: comente uma prática que deu certo na sua escola — vamos mapear iniciativas e montar um guia coletivo para fortalecer a arte-educação no Brasil.



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