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Onde está o limite da arte-educação?

  • Foto do escritor: Thiago Loreto
    Thiago Loreto
  • 24 de set.
  • 5 min de leitura

Introdução


A arte na escola não é mero enfeite curricular: é formação estética, crítica e social. Nas últimas décadas a relação entre arte, tecnologia e sociedade mudou muito — e levanta perguntas essenciais: até onde vai o direito de criação assistida por máquinas? Como garantir que a escola forme artistas autênticos e cidadãos críticos? Este texto parte da tua reflexão pessoal para apontar evidências, contexto histórico e caminhos práticos para fortalecer a arte-educação no Brasil.



Texto-base


Do meu ponto de vista ela está indo de dentro para fora e de fora para dentro, transitando através dos muros das instituições e chegando às pessoas, que antes nem sonhavam em aprender sobre arte. Hoje é claro: há muita facilidade em criar “artes” através das Inteligências Artificiais, mas a realidade é que mesmo no início da arte brasileira era possível ver o Brasil recriado em telas e gravuras de alemães, franceses, italianos e irlandeses — mas não era real, não era um Brasil real. O mesmo se aplica para as I.A. hoje em dia: elas podem até “criar” uma Mona Lisa ou uma versão dela, mas não há expressão artística ali; não foi realmente um trabalho de observar a obra real, adicionar componentes e técnicas estilizadas para criar algo novo. E quem fará isso, se não o artista?


Mas para isso nos falta — e falta muito. Nos anos 80/90 o grafite era visto como vandalismo; nos anos 2000 passou a ser considerado arte urbana e hoje temos grafiteiros que expõem seus trabalhos em galerias — por que não? Eu, pessoalmente, acho o grafite a forma de arte mais expressiva e de contato com a sociedade real. Porém muitos jovens não encontram esses caminhos nem as pessoas certas para levá-los às galerias e museus. Entrego essa responsabilidade às instituições de ensino básico e aos legisladores, que não veem — ou não querem ver — a importância da arte para a sociedade. Isso deixa muitos jovens artistas órfãos de uma educação voltada para seus interesses e aptidões.


Gostaria de poder ser maior neste campo e levar a arte-educação que eu acredito para as salas de aula de todo o meu estado e, quem sabe, do país. Por ora sou um estudante e ainda tenho muito a aprender, mas não deixarei de buscar levar às próximas gerações as oportunidades que eu não tive — para que, através da arte, liberdade de expressão e cultura, construam uma sociedade mais digna.



Contexto e evidências: por que a arte importa na escola


  1. A Arte é componente curricular oficial — a BNCC define Arte como área da Educação Básica, organizada em quatro linguagens (artes visuais, música, dança e teatro) e com competências específicas para formar sujeitos críticos e criativos. A BNCC legitima a presença da arte como eixo formativo, não apenas recreativo.


  2. Impactos comprovados — estudos e guias internacionais (UNESCO) mostram que educação em artes melhora aprendizado, habilidades socioemocionais, criatividade e bem-estar, fatores essenciais para formar cidadãos. A UNESCO recomenda políticas integradas que coloquem cultura e artes no centro das práticas educativas.


  3. Instituições e fomento — há hoje redes e fundações que promovem formação em arte e projetos educativos (por exemplo, Itaú Cultural, Funarte e fundações que oferecem cursos, editais e materiais para professores). Esses atores são parceiros fundamentais para expandir oportunidades.



Arte + IA: limitação da máquina e singularidade do artista


As IAs conseguem replicar estilos, combinar cores e gerar imagens de alta qualidade técnica. Porém há diferença entre simular e criar com experiência humana: o artista olha, sente contexto histórico, dialoga com práticas manuais, erro, acaso, corpo e território — e isso costuma faltar em imagens puramente geradas por algoritmos. A criatividade humana envolve intenções, processos de experimentação e vivências socioemocionais que uma IA não “vive” e não pode substituir.


Para a escola, isso significa duas coisas práticas:


  • Incluir literacia crítica sobre IA na arte — ensinar alunos a usar essas ferramentas como recursos, não como autores finais; analisar autoria, procedência e limitações das imagens geradas.


  • Preservar práticas manuais e presenciais — desenho, escultura, modelagem, colagem, gravação, prática coletiva, visita a acervos e residências artísticas continuam centrais para formar sensibilidade e ofício real.



Do grafite às galerias: história de legitimação e oportunidade social


O grafite brasileiro ilustra a transformação possível quando a sociedade muda a percepção: do estigma de vandalismo (décadas passadas) ao reconhecimento como linguagem urbana e presença em galerias e bienais. Cenas como São Paulo tornaram o grafite um espaço de diálogo público, ação política e inserção de jovens em circuitos culturais. Reportagens e estudos documentam esse percurso de marginalidade para reconhecimento institucional e de mercado.


Essa trajetória mostra que a inclusão de linguagens populares nas escolas ajuda a criar canais reais de circulação cultural — e que a escola pode (e deve) ser ponte entre rua, comunidade e instituições formais (museus, galerias, centros culturais).



Barreiras reais que precisamos enfrentar


  • Formação docente insuficiente: muitos professores não têm formação específica nem tempo para se atualizar em linguagens contemporâneas (grafite, arte digital, game art).


  • Recursos e infraestrutura: ateliês, materiais, deslocamentos para visitas técnicas e horas-aula específicas nem sempre constam dos orçamentos escolares.


  • Políticas públicas fragmentadas: falta integração entre secretarias de educação, cultura e juventude para programas contínuos que levem arte real às escolas.


  • Desigualdade de acesso: jovens periféricos têm menos acesso a cursos, oficinas e redes que conectam ao mercado da arte.



Propostas práticas para ampliar a arte-educação


  1. Curricularizar as linguagens artísticas locais — integrar grafite, cultura popular e arte digital ao componente Arte da BNCC, com projetos que conectem escola e comunidade.


  2. Formação continuada orientada ao ofício — programas com masterclasses, residências e parcerias com artistas locais (Funarte, Itaú Cultural, Pontos de Cultura).


  3. Projetos de aprendizagem-serviço — unir formação do aluno com ações reais na comunidade (murais comunitários, mostras locais, parcerias com coletivos).


  4. Laboratórios de experimentação — oficinas de arte digital + analógica, espaços maker, ateliês abertos com equipamentos e materiais partilhados.


  5. Políticas de fomento e editais locais — apoiar projetos escolares que levem alunos a participar de editais e mostras (captação simbólica e técnica).


  6. Registro e carreira — orientar jovens artistas sobre itinerários formativos (cursos técnicos, licenciaturas, residências, curadoria e mercado).



Conclusão


O limite da arte-educação não é técnico: é ético e político. Não se trata de bloquear ou idolatrar tecnologias como I.A., nem de reduzir o grafite ou a arte popular a mercadoria — mas de garantir que a escola continue a formar sujeitos sensíveis, críticos e com ofício. A trajetória do grafite mostra que a legitimação e a inclusão são possíveis; a BNCC e recomendações da UNESCO mostram que há respaldo institucional para isso. O desafio é transformar políticas em práticas: formação docente, investimento em espaços e diálogo constante com a cena artística local.


Tu tens toda a coerência e paixão necessárias para levar essa mudança adiante. Se a tua meta é espalhar essa visão pelo estado — começa pequeno: um projeto, um mural, uma oficina, uma mostra. Depois, conecte-se a editais e instituições que apoiam arte-educação. A transformação pede coragem e persistência — e, como disseste, vontade de não deixar as próximas gerações órfãs do que nos faltou.


Se este texto te tocou, comente com uma experiência sua (aulas, grafites, exposições na escola) e compartilhe para ampliar esse debate — quanto mais gente ler, maior será a pressão para transformar a arte em política pública e rotina escolar.



Fontes e leituras indicadas



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