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O que torna arte arte — e o artista artista?

  • Foto do escritor: Thiago Loreto
    Thiago Loreto
  • 6 de out.
  • 6 min de leitura

Introdução


Perguntar “o que torna arte arte?” é antigo e necessário. A resposta não é apenas teórica: influencia curricula, práticas educativas, mercado e até políticas culturais. Neste artigo partimos do teu texto — preservado na íntegra mais abaixo — e acrescentamos pesquisa, referências e pontos práticos para quem ensina, cria ou simplesmente quer entender por que algumas coisas são reconhecidas como arte e outras não. As perspectivas aqui reunidas contemplam teoria estética, exemplos contemporâneos e implicações pedagógicas.



O que torna arte arte e artista artista?


Pensar os limites pequenos da arte, como onde ela começa e termina pode ser difícil, veja bem, se temos um designer de carros ele, bem como seu título indica, é um designer certo? Mas e se ele modifica carros e os deixa visualmente bonitos, ele torna-se um artista? E este questionamento, não é válido para qualquer profissão? E a arte? Quando ela se torna arte e quando ela deixa de ser arte? Pense na obra “Can’t help Myself” (em português “não consigo me ajudar”) é um robô projetado para limpar um fluido oleoso que vaza de sim e o mantém funcionando, exposto em uma sala de vidro e piso branco, com movimentos que inicialmente eram ativos, motivados e cheios de vida, mas com o passar dos anos perdeu a graça no movimento, uma obra de arte mecânica, quando este robô deixou de ser um robô e tornou-se arte? Em que momento seu mecânico, projetista, programador deixou de ser tudo isto e tornou-se artista?

Tênue, simplesmente fina a linha que divide o artista das outras profissões, pôde-se considerar até mesmo que o artista é o profissional que levou sua profissão a outro nível, tornando-a em essência arte e a si mesmo em artista.

Falemos um pouco sobre esse caminho, destacar-se em meio a tantos profissionais de trabalhos manuais com anos de experiência em um mercado competitivo parece extremamente difícil, por exemplo móveis, diversas fábricas de móveis que trabalham com centenas de profissionais montando móveis pré projetados todos os dias, como seria possível nascer um artista aqui? Talvez seja e por isso que artesãos geralmente iniciam e encontram seus públicos sozinhos, pois não são uma máquina de produzir sentenças de móveis por semana, mas de produzir um único e belo móvel rústico em um mês, vê a diferença? Profissionais com experiência de mercado comercial não são propriamente artistas, mas aquele um que faz a diferença e muda a forma de se ver o que se vê todos os dias e traz beleza para algo simples, não é somente artista aquele que pinta um belo quadro, aquele que atua em grandes filmes, aquele que canta belas músicas, mas também é aquele que faz com esmero e dedicação o que ama, buscando o belo em tudo o que toca e toma para fazer, veja, o artista torna arte aquilo que ele toca e daí o seu nome, não necessariamente eu, ou você consigamos enxergar arte no que ele faz, mas ela está lá, esperando para ser vista e admirada, não só por quem está habituado a ver arte em seu dia a dia, mas também por quem vê o belo no simples.



Panorama teórico — escolas e pistas úteis


Existem várias respostas filosóficas para “o que é arte”. Entre as mais influentes estão:


  • A proposta institucional / histórica: autores como Arthur Danto e George Dickie argumentam que algo se torna obra de arte quando o artworld (instituições, críticos, historiadores, curadores) o reconhece como tal — isto é, o status artístico depende de um contexto institucional e histórico. Essa visão ajuda a explicar por que objetos idênticos podem ser arte em um caso e utilitários noutro.


  • Definições práticas e contextuais: a Stanford Encyclopedia resume debates contemporâneos e mostra que o conceito moderno de arte é plural e relacional — obras são entendidas em relação a práticas, história e recepção. Isso amplia a ideia de que “arte” é algo que está em processo (histórico e social), não em uma essência fixa.


  • A diferença entre ofício/craft e obra de arte: o debate entre arte e artesanato mostra que o uso, a intenção e a recepção social influenciam o reconhecimento. Itens utilitários podem ser reconhecidos como arte quando transcendem função e promovem reflexão estética ou cultural. Jornalismo recente documenta a desestigmatização do craft e sua aproximação com a arte contemporânea.


O que essas teorias nos dizem — em prática?

Que o status de “obra de arte” não depende apenas da habilidade técnica do autor, mas também do enquadramento institucional, da intenção comunicativa, do diálogo com a história da arte e da recepção do público/critica.



A obra Can’t Help Myself

(Sun Yuan & Peng Yu)


A peça Can’t Help Myself (2016) — o braço robótico que tenta conter um fluido e repete um gesto quase ritual — é exemplar para testar limites: é objeto técnico (robô), instalação mecânica e performance automatizada ao mesmo tempo. O Guggenheim e outras instituições o apresentam como obra de arte, justamente por seu contexto curatorial e pelas questões que levanta (automatização, violência industrial, corpo-máquina). Isso confirma a teoria institucional: o dispositivo só “vira” obra ao entrar em um contexto artístico e dialogar com espectadores e críticos.


Perguntas que o caso suscita: quando o programa/engenheiro deixa de ser “técnico” para ser “autor artístico”? A resposta prática é: quando a obra é concebida com intenção estética/conceitual e é apresentada/legitimada no circuito artístico; o reconhecimento institucional tende a formalizar essa transição.



O limiar entre profissão, ofício e arte — implicações práticas


  • Habilidade ≠ reconhecimento artístico: a perícia técnica é necessária mas não suficiente. Muitos profissionais de ofício (marceneiros, modeladores 3D, designers) têm domínio técnico; o que frequentemente separa o “artista” é a intenção comunicativa, a singularidade conceitual e o enquadramento público.


  • O papel da intenção e do contexto: quando um designer transforma um objeto utilitário em veículo de reflexão (ou quando sua obra dialoga com repertórios artísticos), podemos passar a chamá-lo de artista. O próprio mercado e as instituições podem acelerar esse reconhecimento.


  • O valor do ofício: movimentos como o Mingei (arte do cotidiano) e a revalorização do craft demonstram que o “artesão-artista” é um perfil cada vez mais reconhecido — o que abre caminhos para reconhecer como arte produções até então consideradas apenas utilitárias.



Educação, prática docente e o reconhecimento do artista em formação


Para professores e formadores, a pergunta “quando alguém vira artista?” implica escolhas pedagógicas:


  • Ensinar técnica + contexto: ofertar ofício (técnica) e cultura (história, curadoria, redes) — o portfólio e a reflexão crítica são tão essenciais quanto a habilidade manual. UNESCO defende educação em artes que conecte prática, cultura e cidadania.


  • Expor alunos a instituições e processos curatoriais: visitas, residências e parcerias com galerias e coletivos ajudam os estudantes a entender a dimensão institucional e profissional da arte.


  • Fomentar intenção e autoria: exercícios que incentivem project-based learning, exposições internas e debates sobre recepção artística desenvolvem a boa prática de autoralidade.


  • Valorizar ofícios locais e narrativas identitárias: incorporar craft regional, arte popular e expressões locais amplia o repertório do que pode ser considerado arte e democratiza o reconhecimento.



Critérios práticos para identificar quando algo é

arte


Podemos condensar em cinco pistas (não-exaustivas) que ajudam a reconhecer obras/artistas:


  1. Intenção comunicativa/expressiva: há um propósito que vai além do uso prático?


  2. Singularidade / transformação: o objeto transcende o padrão funcional e provoca leitura estética ou conceitual?


  3. Contexto e legitimação: foi exibido/interpretado por instituições, críticos ou um público artístico?


  4. Diálogo histórico: a obra referencia ou desafia repertórios artísticos já existentes.


  5. Recepção: gera apreciação estética, reflexão crítica ou perturbação que ultrapassa sua função utilitária.


Esses critérios não constituem uma “regra” absoluta — o moderno conceito de arte é plural e aberto — mas funcionam como bússola para educação, curadoria e prática profissional.



Conclusão


A linha que separa artista de técnico, arte de ofício, é realmente tênue — e por boas razões: arte é um campo social, histórico e institucional. O que a teoria e os casos contemporâneos nos ensinam é que arte acontece na interseção entre técnica, intenção e recepção. Para professores e futuros artistas, isso significa: dominar o ofício, cultivar intenções autorais e dialogar com o mundo artístico (instituições, público, mercado). Assim o que hoje é “um belo móvel” pode amanhã ser reconhecido como obra — e o artesão, como artista.


Se este texto despertou perguntas: comente qual critério você acha mais decisivo para chamar algo de arte (técnica, intenção, contexto, recepção ou histórico). Compartilhe este artigo para ampliar o debate — quanto mais vozes, mais saudável a discussão sobre o que é arte hoje.





Fontes e leituras recomendadas



Meta (SEO): o que é arte, definição de artista, institucionalismo em arte, Sun Yuan Peng Yu Can’t Help Myself, diferença entre arte e ofício.

Meta description: Uma reflexão sobre os limites da arte e da figura do artista: teoria, exemplos contemporâneos (como o robô Can’t Help Myself) e implicações práticas para formação e prática artística.


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