
“Não há professor milionário”: Reflexões sobre valorização docente no Brasil
- Thiago Loreto

- 13 de out.
- 5 min de leitura
Introdução
A frase “não há professor milionário” ressoa como uma crítica à valorização profissional dos educadores. Em um país onde se estuda licenciatura — como Artes Visuais — e se observa o mercado de arte movimentando bilhões globalmente, surge uma dissonância: professores sustentam diversas áreas do conhecimento, mas raramente atingem remunerações elevadas. Este artigo utiliza esse ponto de partida para analisar dados reais, desigualdades salariais, oportunidades existentes e caminhos possíveis para que professores se destaquem não apenas pelo ensino, mas também por inovações além da sala de aula.
Desvalorizando a desvalorização
Recentemente ouvi a frase “não há professor milionário.” O que me deixou um tanto surpreso, veja, a profissão base de todas as outras profissões, como no meu caso, eu estudo licenciatura em artes visuais, em 2023 o mercado global de arte movimentou cerca de US$ 69 bilhões, como que na base de um mercado bilionário não há um milionário? Tudo bem se fizer as contas a talvez os valores não fechem mesmo, mas pense bem, se um professor buscar se destacar hoje no Brasil, o que acontece com ele, para onde ele vai e o que ele faz? Se pensarmos que o professor se forma para dar aulas ao ensino fundamental e médio inicialmente é conforme se aprimora e faz outras formações ele se torna, eventualmente, professor do ensino superior, mas isso realmente não faz dele um milionário, porque? Garantir a educação de centena de milhares de pessoas não é digno destes valores? Imagine o professor de matemática, ele é a base para diversas profissões de diversos mercados, como mercado financeiro, para o mercado de construção civil, com a engenharia, até mesmo para a saúde, pois os médicos, farmacêutica, enfermagem entre outros profissionais da área, necessitam calcular as doses de medicamentos, e todos os professores do ensino básico se você parar para analizar são a base de algum mercado e de muitos mercados milionários ou mesmo bilionários, porque a educação não recebe a devida valorização?
Bem logicamente se eu quero ganhar mais eu tenho de fazer mais, e não necessariamente fazer mais e mais formações, mas sim fazer algo mais relevante, por exemplo eu que serei um professor de artes em breve, se eu for apenas mais um professor de artes, farei uma longa e segura carreira em sala de aula até que chegue o dia de me aposentar, porém se eu quero ser valorizado enquanto professor de artes não fará mais sentido por exemplo se no meu currículo/portfólio constar outros trabalhos que não apenas em sala de aula? Eu por exemplo poderia comercializar minhas pinturas, desenhos e esculturas, e ser, além de um excelente professor em sala, um artista valorizado, acha impossível? Imagine o mesmo professor de matemática que citei antes, ora, ele é ótimo em sala de aula, mas ganha menos e é menos valorizado que o professor de matemática do turno da manhã, porque? Bem o professor do turno da tarde é apenas professor nesta escola, enquanto o professor do turno da manhã é professor nesta escola e oferece aulas complementares de educação financeira aos alunos, esses pagam uma taxa por estas aulas, além disso o professor também faz a contabilidade de alguns pequenos comércios da região, vê? O professor A contenta-se com o mínimo da profissão, ser professor e deseja ser mais valorizado, mas não faz por onde, enquanto o professor B além de sua formação, utiliza todo o seu conhecimento para ser mais valorizado, tanto em sala de aula quanto fora dela.
Bem não deveria ser este nosso objetivo enquanto professores? Parar de reclamar? Não exatamente, mas mostrar ao alunos que não basta reclamar parado, esperando a ajuda de terceiros sem se movimentar em direção ao que se deseja, mostrar aos alunos como chegar ao tão desejado “sucesso” não é tão importante quanto exigir o “sucesso” sem batalhar por ele? Não há a necessidade de dizer ao aluno que ele precisa ter 10 empregos para ter sucesso, mas se esforçar para criar valor tangível em si mesmo para que então seja valorizado, ao invés de esperar este valor todo cair do céu, este não é o caminho para o docente moderno que acredita nos alunos e em seu potencial? Desenvolver as habilidades destes jovens para que aprendam que para algo ter valor é preciso um pouco do bom e velho trabalho duro e não só reclamar.
Dito isto, pense da seguinte forma, qualquer professor pode ser valorizado e ganhar mais, desde que deixe de ser um professor qualquer.
Pesquisa e dados que fortalecem a reflexão
Salários médios da rede pública
Em 2023, o rendimento médio dos professores com Ensino Superior na rede pública do Brasil alcançou R$ 4.942 mensais.
Entretanto, esse valor ainda é cerca de 86% do rendimento médio de profissionais com formação superior em outras áreas, mostrando desvantagem significativa da carreira docente.
Dados anteriores mostram que 99% dos professores da educação básica ganhavam menos de R$ 3.500 (dados de 2014) — a maioria do magistério.
Comparação internacional
Segundo a OCDE, professores brasileiros do Ensino Fundamental II recebem, em média, US$ 23.018/ano (valor convertido para paridade de poder de compra), praticamente a metade do salário pago na média dos países membros da OCDE, que é de ~US$ 43.058/ano.
Esse dado reforça que, mesmo com progresso, a carreira docente no Brasil está muito aquém do que poderia ser em países com valores culturais e econômicos semelhantes.
Mercado de arte global
O relatório Art Basel & UBS de 2025 indica que o mercado global de arte obteve vendas de US$ 57,5 bilhões em 2024, embora com queda de 12% em valor, houve aumento de 3% no número de transações.
Isso demonstra que, embora haja oportunidade de mercado, muitos artistas — ou professores-artistas — não têm acesso direto ou escala para capturar porcentagens significativas desses valores.
Desigualdade regional e condições variáveis
No estudo Remuneração e características do trabalho docente no Brasil da SciELO, identifica-se que em muitos estados, professores com formação superior recebem salários médios de R$ 1.500 a R$ 2.000 ou menos, especialmente em regiões Norte, Nordeste.
Além disso, há discrepâncias fortes entre redes municipais, estaduais e federais, entre jornadas, turnos, gratificações, bônus e outras formas de remuneração.
Análise aprofundada
O fato de que o mercado de arte movimenta bilhões globalmente não implica em retorno financeiro igualitário para todos os agentes — os que produzem grande parte da base (professores, artistas emergentes, artesãos) raramente têm acesso a mercados de alto valor ou visibilidade.
A valorização da docência exige não só formação contínua, mas diversificação de atuação: quando o professor ativa outras frentes (arte comercial, oficinas privadas, prestação de serviços, parcerias) ele abre portas para aumentar sua renda e visibilidade.
Sistemas educacionais com reconhecimento real para professores — via carga horária justa, bônus por resultados, oportunidades de liderança, empreendedorismo educativo — mostram casos onde professores conseguem viver bem e ganhar mais. Mas são exceções, não regra.
Conclusão
A ideia de que “não há professor milionário” indica mais do que falta de riqueza: revela desigualdades estruturais, fraca valorização institucional e escassez de oportunidades para que o professor incorpore múltiplas facetas de sua vocação (ensino + arte + produção + mercado). Isso não significa que é impossível atingir reconhecimento ou ganhos elevados, mas que depende de decisão estratégica, diversificação de atuação, desenvolvimento contínuo e de mudanças de política pública. O professor pode e deve buscar mais — não apenas para si, mas para inspirar alunos a verem na educação uma carreira digna e valorizada.
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Fontes e Referências
“Salário médio dos professores da rede pública é de R$ 4,9 mil em 2023” — Terra, com Anuário Brasileiro da Educação Básica.
“Salário de professor no Brasil é praticamente a metade da média dos países ricos, diz OCDE” — UOL / Agência Estado.
“Mercado de arte registra mais vendas, apesar de queda nos valores” — Poder360 sobre Art Basel & UBS Report 2025.
“Remuneração e características do trabalho docente no Brasil: um aporte” — SciELO.
INEP – Estatísticas dos Professores no Brasil.



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